A fibromialgia é uma síndrome que ocorre principalmente com dor crónica, fadiga e perturbação do sono. Enquanto a fibromialgia é tratada com fármacos, a evidência científica mostra que uma abordagem multidisciplinar, baseada num estilo de vida saudável, é fundamental. Neste sentido, existe uma série de remédios naturais que podem ser de grande ajuda na, muitas vezes, complicada gestão desta patologia que afeta mais de 2% da população.
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Introdução
O termo fibromialgia descreve uma síndrome clínica na qual a dor músculo-esquelética difusa é o principal sintoma. Frequentemente associado à dor, os pacientes queixam-se de fadiga inexplicável, distúrbios do sono, rigidez matutina subjetiva, várias parestesias, sintomas do cólon irritável, cefaleia, distúrbios vestibulares, sintomas geniturinários e alterações no tono afetivo. Muitos associam o início e/ou as exacerbações dos sintomas com stress, traumatismos, alterações no clima ou no ambiente, a falta de sono e a atividade física. Atualmente, existem elementos que consideram a fibromialgia como uma entidade real e identificável, existindo, inclusive, critérios para estabelecer o diagnóstico.
A fibromialgia é algo mais do que uma doença músculo-esquelética e o seu estudo clínico deve ir além da dor, da fadiga e sintomas similares. Os estudos científicos mostram a existência de anomalias neurológicas, bioquímicas, imunológicas e endócrinas, que podem fazer parte do quadro de sintomas que englobam o termo fibromialgia.
Tratamento da fibromialgia.
Os múltiplos componentes da patogenia e a manutenção da afeção requerem uma abordagem multidisciplinar de tratamento em que deve ter-se em conta, tanto os fármacos (em particular antidepressivos e antiepiléticos neuromodulatórios) como o tratamento não farmacológico, como o exercício aeróbico e o treino de força, os exercícios aquáticos e balneoterapia, a terapia cognitiva comportamental, uma alimentação saudável e determinados suplementos nutricionais.
No artigo de hoje, vamos focar-nos nos remédios naturais baseados numa alimentação saudável, plantas medicinais e suplementos nutricionais.
Recomendações nutricionais para a fibromialgia
Entre as estratégias não farmacológicas para o tratamento da fibromialgia, a crescente evidência sugere um possível papel benéfico para a nutrição. Uma vez que comer é algo que, felizmente, fazemos diariamente, uma boa alimentação pode fazer a diferença no prognóstico da fibromialgia.
No que diz respeito às intervenções dietéticas, o que se extrai dos estudos é que o padrão alimentar ideal, na fibromialgia, seria:
- Uma dieta mediterrânica
- Controlada em calorias
- Rica em azeite virgem extra (AOVE),
- Com um peso maior de vegetais e peixe do que de carne.
- Sem glúten ou substituindo o trigo por cereais antigos
- Sem glutamato monosódico e sem aspartame.
Glúten, um possível inimigo na fibromialgia.
Os pacientes com fibromialgia têm frequentemente sintomas gastrointestinais que se sobrepõem, significativamente, a várias doenças relacionadas com o glúten, tais como náuseas, dor abdominal, fadiga, cansaço, dor crónica e alterações de humor, o que sugere uma possível coexistência de sensibilidade ao glúten, não-celíaca, nestes pacientes. De acordo com alguns estudos, esta alteração está presente entre 40 a 60% dos casos de Fibromialgia.
É por isso que uma dieta sem glúten pode ser utilizada como um tratamento complementar em doentes com fibromialgia.
Embora o glúten esteja presente em cereais como o trigo, a cevada e o centeio, parece que o glúten do trigo moderno é o mais problemático. De facto, num estudo em que o trigo moderno foi substituído por uma variedade muito mais antiga, como o kamut, após 8 semanas, os participantes relataram uma melhoria geral na gravidade dos sintomas relacionados com a fibromialgia, incluindo a dor corporal generalizada, a sonolência diurna, a fadiga e o cansaço, resultando numa melhoria do impacto da doença nas atividades diárias, com um maior efeito positivo após a intervenção com Kamut.
Outros cereais antigos, muito interessantes pelas suas propriedades nutricionais, e sem glúten, são o teff, o sorgo, o milho, a quinoa e o trigo sarraceno (sem ser estes dois últimos cereais).
Estratégias dietéticas a considerar:
- Coma mais plantas do que carne.
- Consuma frutas, legumes e leguminosas, juntamente com cereais antigos e peixe.
- Beba muita água e uma variedade de infusões.
- Elimine os ultraprocessados, o açúcar adicionado e reduza ao máximo as farinhas.
Remédios naturais para a fibromialgia.
A análise da literatura científica demonstrou que o papel de determinados suplementos dietéticos mostra resultados promissores na gestão da sintomatologia da fibromialgia. Vejamos os que se destacam:
Vitamina D
A evidência sugere que a suplementação com vitamina D deve ser considerada na gestão da fibromialgia, tendo em conta o facto de que, cerca de 40% dos indivíduos com fibromialgia foram relatados com deficiência de vitamina D. Além disso, vários estudos sugeriram uma associação entre baixos níveis de vitamina D de soro e dor crónica, depressão e ansiedade em pacientes com fibromialgia.
Num estudo de 2009, demonstrou-se que foram cerca de 8 semanas de suplementação com colecalciferol (vitamina D3) que apresentaram melhorias significativas na sintomatologia da fibromialgia. Posteriormente, foram realizados outros estudos para avaliar o efeito da suplementação com vitamina D em doentes com fibromialgia e em todos foi relatado um efeito benéfico da suplementação com vitamina D.
Magnésio:
A investigação revelou como os baixos níveis de magnésio podem estar envolvidos no desenvolvimento da sintomatologia da fibromialgia. Da mesma forma, foi demonstrado que a suplementação com magnésio reduz os sintomas da fibromialgia, por isso é um suplemento recomendado com frequência.
A suplementação de magnésio durante 8 semanas (300mg/dia) reduz os nós de tensão muscular e a severidade da fibromialgia.
Nota: A suplementação de magnésio é especialmente eficaz quando administrada juntamente com um complexo de vitaminas do grupo B. Isto porque foi demonstrado a existência de um défice funcional de vitaminas do grupo B (sobretudo B6), em pacientes com fibromialgia. (o magnésio funciona em sinergia com a vitamina B6).
Melatonina:
Estudos clínicos descobriram que os pacientes com fibromialgia parecem segregar menos melatonina durante a noite do que os casos saudáveis, o que pode levar a perturbações no ciclo do sono. Entre estes pacientes demonstrou-se que a suplementação com melatonina produz uma melhoria da gravidade e dos sintomas da fibromialgia. Isto pode dever-se às propriedades analgésicas, anti-inflamatórias e antioxidantes que a melatonina possui.
Ácidos gordos Ómega-3
Entre os doentes com fibromialgia, a suplementação com ácidos gordos ómega-3 tem sido associada a melhorias significativas na severidade da dor, fadiga e depressão.
5-hidroxitriptofano (5-HTP):
O 5-HTP é um aminoácido precursor endógeno da serotonina. A potencial utilidade do 5-HTP é suportada por dados que indicam um metabolismo com défice de serotonina na fibromialgia.
De acordo com uma análise publicada na Reumatology International, os estudos sugerem que a suplementação com 5-HTP em pacientes com fibromialgia está associada a melhorias significativas na ansiedade, na intensidade da dor, na rigidez matinal, na qualidade do sono e na fadiga
A suplementação com 5-HTP é bem tolerada e começa a produzir efeitos ao fim de 30 dias de utilização.
Coenzima Q10
A coenzima Q10 ou ubiquinona é um componente essencial da função mitocondrial saudável, bem como um poderoso antioxidante que ajuda a combater o stress oxidativo e a prevenir o dano dos tecidos.
Os principais benefícios da CoQ10 incluem a manutenção da energia natural (combate o cansaço e a fadiga), as propriedades anti-inflamatórias e analgésicas, assim como a melhoria da saúde do coração e do cérebro.
- Há muitos estudos que mostram os efeitos da Coenzima Q10 na depressão, fibromialgia e fadiga crónica.
Fitoterapia
Várias plantas medicinais como a Chlorella pyreinoidosa, a Ginkgo biloba ou o Hipericão têm mostrado alguns benefícios para os pacientes com fibromialgia, melhorando sintomas como dor muscular, fadiga, rigidez matinal e qualidade de vida.
O uso do hipericão é especialmente interessante juntamente com o Triptofano ou o 5-http, uma vez que potenciam os seus efeitos entre si.
Precauções: Deve evitar-se a administração simultânea de hipericão e medicamentos inibidores da MAO ou inibidores seletivos de receção da serotonina, a menos que sejam prescritos por um médico qualificado. Evitar a sua utilização durante a gravidez e lactação, assim como antes de uma intervenção cirúrgica.
Conclusões:
Embora as causas da fibromialgia ainda não sejam totalmente claras, hoje em dia existem diversas alterações que esta síndrome produz e como existem remédios naturais que podem ajudar a melhorá-las e, portanto, reduzir a gravidade da sua sintomatologia.
Artigo redigido por Antonio Valenzuela.
Antonio Valenzuela é fisioterapeuta especialista em psiconeuroimunologia clinica, fitoterapia e nutrição.
Antonio é professor, conferencista e divulgador sobre um estilo de vida saudável. Colabora com o Green Club aportando informação profissional, atual e comprovada sobre diversos temas relacionados com a saúde e o bem-estar.
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