Fibromialgia: tudo o que precisa saber

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Causas y síntomas de la fibromialgia

Fibromialgia

A fibromialgia é uma síndrome crónica de causa desconhecida que ocorre principalmente com dor, fadiga e interrupção do sono. Ainda que a fibromialgia seja tratada com fármacos, a evidência científica mostra que uma abordagem multidisciplinar, baseada num estilo de vida saudável, é fundamental. Neste sentido, são eficazes os tratamentos farmacológicos, como exercício aeróbico e o treino de força, os exercícios aquáticos e balneoterapia, s terapia cognitiva comportamental, uma alimentação saudável e determinados suplementos nutricionais.

O que é a fibromialgia?

O que hoje se define como fibromialgia já foi descrito por Gowers, em 1904 (sob o termo “fibrosite”). Mas só em 1990 é que o Comité do Colégio Americano de Reumatologia (ACR) elaborou os seus critérios de diagnóstico amplamente utilizados (ligeiramente modificados em 2011).  

A fibromialgia é uma síndrome crónica, caracterizada por dor generalizada, presença de múltiplos pontos com maior sensibilidade, rigidez articular e sintomas sistémicos tais como insónia, fadiga, mudanças de humor, disfunção cognitiva e mucosas secas. Tudo isto sem uma doença orgânica, subjacente, bem definida.

Ainda que a maioria dos casos sejam diagnosticados em mulheres de meia-idade, a fibromialgia afeta outros segmentos etários e os homens. Estima-se que a prevalência da fibromialgia seja de cerca de 1% -2% (3,4% para as mulheres e 0,5% para os homens). No entanto, continua a ser uma afeção pouco conhecida e difícil de diagnosticar. A tal ponto que muitos profissionais de saúde chegaram a questionar-se se a fibromialgia era real.

Sintomatologia da fibromialgia.

A dor é o principal sintoma da fibromialgia. Pode variar de um leve desconforto a quase insuportável, em qualquer caso, a dor é o que caracteriza a fibromialgia.

A fibromialgia causa o que é conhecido como “áreas dolorosas” (existem 19 áreas no total). A dor nestas regiões é sentida como uma dor surda constante, muitas vezes com sensação de rigidez, dormência e formigueiros. Frequentemente, a dor concentra-se em pontos específicos como a nuca, parte superior dos ombros, esterno, trocânteres, joelhos e parte exterior dos cotovelos.  

Causas de la fibromialgia
Arthritis Care and Research. 2010;62(5):600–610.

Áreas corporais incluídas na escala do Índice de dor generalizada dos critérios de diagnóstico de 2010 do ACR

Outros sintomas muito comuns na fibromialgia são:

  • Cansaço e fadiga persistente e generalizada.
  • Debilidade muscular.
  • Dificuldade em adormecer.
  • Sono não reparador (acordar com a sensação de não ter descansado o suficiente)
  • Dores de cabeça.
  • Zumbido nos ouvidos.
  • Sensação de instabilidade.
  • Ansiedade e depressão.
  • Problemas de concentração (nevoeiro mental)
  • Secura generalizada das mucosas (boca, olhos, vagina, etc.)
  • Outros sintomas adicionais podem estar associados a esta condição, como o caso do Fenómeno de Raynaud, a doença do intestinal irritável, e a intolerância ao calor e ao frio.

Quais são as causas da fibromialgia?

A etiologia da fibromialgia ainda não está totalmente clara, mas as técnicas modernas de neuroimagem funcional têm fornecido dados importantes sobre o papel principal tanto do sistema nervoso central como do vegetativo, no desenvolvimento da doença.

Estes estudos mostraram como as pessoas com fibromialgia sofrem uma hiperativação das áreas responsáveis pela dor a nível cerebral. Isto dá lugar a um fenómeno conhecido como sensibilização central, no qual o cérebro interpreta certos estímulos como sinais de dor, que não deveriam desencadear tal resposta.

Além do aumento dos mecanismos neurais, fenómenos inflamatórios (alteração do sistema imunitário) bem como desequilíbrios bioquímicos são observados no cérebro dos pacientes com fibromialgia, principalmente na via da serotonina, que desempenha um papel importante na modulação da dor. Estes fenómenos contribuem para a alteração da modulação da dor observada na fibromialgia.

No entanto, a investigação disponível ainda não identifica uma causa exata da fibromialgia.  De acordo com as últimas investigações, a causa parece ser uma teoria de múltiplos impactos na qual muitos fatores contribuem para o desenvolvimento da fibromialgia de uma forma única, envolvendo uma predisposição genética (características hereditárias), infeções, traumas físicos, experiências pessoais, fatores emocionais-cognitivos, a relação mente-corpo e uma capacidade biopsicológica para lidar com o stress.

Os fatores desencadeantes, mais comuns, para o desenvolvimento da fibromialgia seriam:

As infeções parecem ser capazes de induzir fibromialgia mesmo que uma relação causal direta não esteja documentada. Identificou-se como a gripe, a pneumonia, as infeções gastrointestinais, como as causadas pelas bactérias Salmonella e Shigella, e o vírus Epstein-Barr, têm possíveis ligações à fibromialgia.

Investigações recentes (Clos-Garcia et al.), mostraram como as bactérias intestinais podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento da fibromialgia devido ao eixo do cérebro-intestino. Descobriu-se como os pacientes com fibromialgia têm menos diversidade de bactérias intestinais, bem como um crescimento excessivo de certas colónias de bactérias produtoras de glutamato (uma substância que pode alterar as vias da dor a nível cerebral.

Outros estudos demonstraram que as pessoas que passam por traumas físicos ou emocionais graves podem desenvolver fibromialgia. É especialmente importante observar como os traumas emocionais infantis aumentam o risco de sofrer de fibromialgia na idade adulta.

Fatores de risco de fibromialgia

Determinados fatores aumentam o risco de desenvolver fibromialgia:

  • Género: A fibromialgia é mais predominante entre as mulheres.
  • Idade: O risco de desenvolver fibromialgia aumenta com a idade.
  • Histórico familiar: Se tiver familiares próximos com fibromialgia, é possível que tenha um risco acrescido de desenvolver fibromialgia.
  • Uma doença. Embora a fibromialgia não seja uma doença autoimune, ter lúpus ou artrite reumatoide pode aumentar o risco de sofrer de fibromialgia também.

Diagnóstico de fibromialgia

A fibromialgia é a terceira afeção músculo-esquelética mais comum e a sua prevalência aumenta com a idade. No entanto, embora o diagnóstico tenha melhorado nos últimos anos, uma parte significativa dos médicos ainda não consegue reconhecer a síndrome.

O diagnóstico é tipicamente clínico (não há anomalias de laboratório) e o médico deve focar-se na dor e nas suas características. Este processo centra-se em observar se o paciente a teve generalizada durante 3 meses ou mais. “Generalizada” significa que a dor afeta várias áreas do seu corpo, bilateralmente, tanto no quadrante superior como no inferior. Depois de um exame completo, deve concluir-se que nenhuma outra afeção está a causar-lhe dor.

Um diagnóstico diferencial cuidado, é obrigatório: a fibromialgia não é um diagnóstico de exclusão, embora alguns prestadores de cuidados de saúde o tenham rotulado como tal.

Em vez de assumir um diagnóstico de fibromialgia, outros diagnósticos potenciais devem ser descartados. Os mais comuns a ter em conta em doentes com sintomas de fibromialgia são distúrbios de saúde mental, hipotiroidismo, artrite reumatoide, disfunção suprarrenal e mieloma múltiplo.

  • É importante salientar que nenhum teste de laboratório pode detetar fibromialgia.

Tratamento da fibromialgia

Dado que a etiopatogenia, os critérios de diagnóstico e os critérios de classificação da fibromialgia ainda são objeto de debate, como consequência, também são as estratégias para tratar esta patologia.

Os objetivos do tratamento da fibromialgia são aliviar a dor, aumentar o sono reparador e melhorar a função física, reduzindo os sintomas associados.

Os múltiplos componentes da patogenia e a manutenção da afeção requerem uma abordagem multidisciplinar de tratamento no qual se deve ter em conta tanto os fármacos (em particular antidepressivos e antiepiléticos neuromodulatórios) como o tratamento não farmacológico, como o exercício aeróbico e o treino de força, exercícios aquáticos e balneoterapia, a terapia cognitiva comportamental, uma alimentação saudável e determinados suplementos nutricionais. Além de terem conta terapias emergentes como a estimulação cerebral, a ozonoterapia e a câmara de oxigénio hiperbárico.

Entre os suplementos nutricionais, os mais utilizados na fibromialgia são a Coenzima Q10, o Triptofano (5HTP), a melatonina, magnésio, chá verde e óleo de peixe rico em Ómega 3.

É importante salientar que a maioria dos medicamentos anti-inflamatórios não esteroides e os opióides têm um benefício limitado.

Pontos-chave

  • A fibromialgia é caracterizada por dor crónica generalizada, fadiga, distúrbios do sono e sintomas funcionais.
  • A fibromialgia é uma síndrome bastante comum na população em geral, atingindo uma prevalência de 2-3% em todo o mundo.
  • A patogenia da fibromialgia não é totalmente compreendida; As hipóteses afirmam que a predisposição genética, acontecimentos vitais stressantes, os mecanismos periféricos (inflamatórios) e centrais (cognitivo-emocionais) interagem para criar a perceção alterada da dor devido a modificações neuromorfológicas (“sensibilização central”).  
  • Devido à subjetividade dos sintomas e à falta de testes laboratoriais, o diagnóstico clínico e os critérios de diagnóstico estão em constante evolução; o diagnóstico precoce e a prevenção continuam a ser objetivos difíceis de alcançar.
  • O tratamento deve ser multifatorial e baseado em cinco pilares (educação do doente, estado físico, nutricional, farmacoterapia e psicoterapia); a abordagem deve ser individualizada, baseada em sintomas e escalonada, estabelecendo metas partilhadas com o paciente.

Referências do artigo Fibromialgia: tudo o que precisa saber

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